Maria Grazia Chiuri faz uma moda western para a temporada
Não há qualquer espaço para a obviedade na primeira coleção cruise da Dior assinada pela italiana Maria Grazia Chiuri, que começa a chegar nesta terça-feira (28.11) à flagship store da marca em São Paulo - e nas butiques da grife mundo afora.
Artsy, artesanal, selvagem e espiritual, é o passo mais certeiro da estilista na tentativa de ampliar o guarda-roupa da maison para todos os momentos do cotidiano de sua clientela.
De acordo com a Vogue Brasil, o desfile aconteceu em maio passado em Los Angeles. Não na luxuosa Rodeo Drive ou aos pés do letreiro de Hollywood, mas na inóspita - e belíssima - paisagem semidesértica do Cânion Las Virgenes.
Pouco visitado pelos turistas e até pelos próprios californianos, o local fica em Calabasas, onde moram, entre tantas outras celebridades, as mulheres da família Kardashian.
Essa, no entanto, não é uma coleção para estrelas de reality shows: as grandes inspirações foram a artista plástica Georgia O’Keeffe (1887-1986), com seus chapéus de casco reto e guarda-roupa com linhas austeras, e a obra da terapeuta xamânica e ícone do feminismo da Costa Oeste Vicki Noble, hoje com 70 anos, que propôs um paralelo entre os dilemas femininos e os arcanos do tarô.
O moodboard ganhou ainda nuances primitivistas com referências às pinturas nas cavernas pré-históricas de Lascaux, que inspiraram Monsieur Dior para uma coleção em 1951, a de sua famosa Linha Oval.
Em sua autobiografia, Dior reservou espaço generoso às lembranças da primeira viagem que fez à Califórnia, em 1947, definindo-a como uma “super Riviera”. “Não seria este o paraíso terrestre com que todos os americanos e muitos europeus sonhavam?”, escreveu o estilista.
“Um bom clima durante todo o ano, o sol sempre brilhante, uma generosidade de árvores frutíferas, grandes praias banhadas pelas ondas do Pacífico...” Dez anos depois, ele voltaria à região para lançar sua primeira coleção de maiôs - fabricada na Califórnia - e criaria um vestido azul de algodão em homenagem ao Estado americano.
Mas a Los Angeles de Maria Grazia não chega nem perto do mar - tem mais a ver com as desbravadoras do Velho Oeste. Falo aqui de jaquetas jeans com delicados bordados metalizados, casacos de couro franjados, capas de tecidos rústicos usadas sobre vestidos de tule transparente com corpete em estilo bustiê ou saias três-quartos de plumas.
De fios de linha tricotados em suéteres de gola de xale, saias pintadas à mão comos arquétipos rupestres, aplicações de estrelas, corações e chifres. De mantas listradas, retalhos nas cores do arco-íris, camisas de couro, tudo isso em tons de negro, âmbar, branco e ocre empoeirado. “Pensei nos primórdios da relação entre a mulher e a natureza, que aqui na Califórnia é sem dúvida impressionante. Olhe só para esse céu”, disse Maria Grazia antes do desfile, apontando para o pôr do sol em 50 tons de rosa que ia se desenhando.
São peças para mulheres que gostam de brincar com o contraste de pesos: uma jaqueta biker sobre um vestido de tule levíssimo, saias com barrado de franjas metálicas que fazem brilhar o calcanhar, suéteres sobre vestidos etéreos de algodão - uma demonstração de força contundente do excepcional trabalho manual dos ateliês da maison que conseguiu fazer do rústico o novo chique.
Há ainda acessórios absolutamente inacreditáveis, como as pulseiras coloridas de fita meio hippies, os colares de ouro velho cheios de budas em diversas posições de ioga e as bolsas de couro rústico bordadas com metais e alças de tecido tricotado com mosaicos.