
Oito longas-metragens concorrem na mostra competitiva do 12º Fest Aruanda, mostra que começa ontem em João Pessoa, na Paraíba, com a apresentação de Clara Estrela, de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir.
Pelo cardápio, teremos um bom festival, com dois documentários e seis ficções disputando os troféus Aruanda.
Convém lembrar: tanto o festival como o prêmio que distribui tomam de empréstimo o título do filme clássico de Linduarte Noronha, tido como um dos precursores do Cinema Novo. Aruanda, que, na virada dos anos 50 para os 60, documenta a vida dos moradores do quilombo da Serra do Talhado, na Paraíba, fez história e virou festival.
Com esse background, o Aruanda tornou-se um festival de bom nível. Criado e dirigido por Lúcio Vilar, professor da Universidade Federal da Paraíba, busca a diversidade dos filmes, a qualidade dos participantes e o bom debate na área cinematográfica.
Não fica apenas nas mostras competitivas. Para a edição deste ano, programou uma verdadeira maratona de 45 filmes em suas diversas mostras. Alguns passam fora de concurso, como Clara Estrela, de Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir, sobre a cantora Clara Nunes, que será exibido na noite de abertura.
Outros fazem parte das mostras informativas, como Saudades, de Paulo Caldas, 10 Centavos para o Número da Besta, de Guillermo Planel, O que Seria Deste Mundo sem Paixão, de Luiz Carlos Lacerda, e Lamparina da Aurora, de Frederico Machado.
Fecham o programa 12 curtas-metragens, que também concorrem aos troféus.
No capítulo homenagens, o Aruanda estará bem servido. O cineasta moçambicano brasileiro Ruy Guerra recebe troféu especial. E estará em João Pessoa para autografar sua biografia, Ruy Guerra – Paixão Escancarada, escrita pela historiadora Vavy Pacheco Borges, revela o Estadão.
Recebem também homenagens a cantora Elba Ramalho, os atores Paulo César Pereio e Servílio Holanda e os cineastas Paulo Caldas e Ivan Lhebarov.
Em meio a toda essa série de atividades atraentes e presenças marcantes, a mostra competitiva continua a ser o centro de gravidade deste festival, como de qualquer outro.
Nesta, dois documentários traçam perfis de figuras marcantes da cultura brasileira – o poeta e letrista piauiense Torquato Neto (1944-1972) e o jornalista e escritor fluminense Antonio Callado (1917-1997). São dois filmes interessantes, ágeis e à altura dos personagens retratados, ambos de vida complexa e multifacetada. São de autoria de Emilia Silveira (Callado) e Eduardo Ades & Marcus Fernando (Torquato).
Muita variedade há entre os de ficção: desde o terror paraibano Nó do Diabo (vários diretores) até o intimista Pela Janela, de Carolina Leone.
Com Abaixo a Gravidade, o baiano Edgard Navarro surpreende mais uma vez, ele que nunca fez cinema convencional e agora se reinventa na maturidade.
Em Antes do Fim, o também inovador Cristiano Burlan investe no tema da terceira idade, tendo Helena Ignez e Jean-Claude Bernardet como protagonistas.
Em Legalize Já!, Johnny Araújo & Gustavo Bonafé tratam, em termos ficcionais, da formação da banda Planet Hemp.
Açúcar, de Renata Pinheiro & Sérgio Oliveira evoca o passado escravocrata do país pela história da herdeira (Maeve Jinkins) que retorna ao engenho de propriedade da família.
Aliás, a raiz escravocrata, matriz da desigualdade social à brasileira, fornece mais que um pano de fundo de outro dos competidores, Nó do Diabo – está em sua estrutura mesma.
O tema está na ordem do dia.
Mostra competitiva longas
Torquato Neto – Todas as Horas do Fim (RJ)
Callado (RJ)
Abaixo a Gravidade (BA)
Antes do Fim (SP)
Legalize Já! (SP)
Nó do Diabo (PB)
Pela Janela (SP)
Açúcar (PE)