A idade mínima de aposentadoria já é um consenso entre os brasileiros, e a reforma da Previdência vai acontecer neste governo ou no próximo.
Essa é a mensagem que o diretor-presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, levará aos investidores do Fórum Econômico Mundial, que começa na próxima terça (23), em Davos, na Suíça.
Antes de embarcar, ele conversou com a coluna Mercado Aberto, da Folha de São Paulo.
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Folha - Qual a expectativa do senhor para este Fórum?
Luiz Trabuco - A globalização, seguramente irreversível, favorece, nesse momento, uma fragmentação das sociedades por meio de novas atitudes: os EUA se fecham em si mesmos, o Reino Unido sai da União Europeia. Provocou-se um grande volume de desemprego e um mundo sem trabalho formal. Precisamos encontrar um novo contrato social.
Mas e em relação ao Brasil, o que o senhor dirá aos investidores sobre o país?
A volta do crescimento no mundo faz com que possamos prever um ajuste gradual da política monetária do Brasil. Isso tem dado tempo para que a gente faça um ajuste fiscal, que é fundamental. O Brasil continua a ser um endereço importante para os investidores internacionais. A previsão de investimento estrangeiro direto neste ano é superior a US$ 80 bilhões (R$ 256 bilhões), será mais que no ano passado. É evidente, no entanto, que o mundo cobra o equilíbrio fiscal, que é fundamental para que a inflação não volte e que não haja a insolvência do país.
Quanto ao crescimento, o senhor mantém a expectativa de 2,5% a 3%?
Modelos nossos apontam para 2,8%. A inflação está controlada, e não podemos subestimar a importância da política monetária para a volta do crescimento do Brasil. Só falta a volta do equilíbrio fiscal, e a reforma da Previdência está pautada. Em Davos sempre se falou sobre o envelhecimento, mas nós, quando tratamos da reforma da Previdência no Brasil, discutimos finanças públicas, desigualdade dos sistemas privado e público. Há uma dívida social no Brasil que é muito intensa, mas o resto do mundo já pensa nos ciclos demográficos. Essa discussão tem de ser ampliada no Brasil, e está sendo, pois está pautada desde fevereiro.
Qual o percentual de chance de ela passar?
Eu não sei responder, mas essa reforma é um tema para este governo e também será para o próximo.
O senhor acredita que ficará um grande peso para o próximo presidente, caso não se aprove neste?
Se não passarmos agora uma reforma que, por exemplo, estabeleça uma idade mínima, ficará mais pesado para o próximo governo. A Previdência sempre terá de ser alterada continuamente. Se não for possível a reforma necessária, temos de perseguir a possível. A sociedade já a discute, e ampliou-se a consciência de que ela é necessária. Quanto à idade mínima já existe consenso.
O senhor acha que já existe um consenso?
Creio que sim, que as pessoas entendem que nenhum sistema pode permanecer assim, que deve haver uma idade mínima, e não por tempo de contribuição.
O crédito para empresas será retomado neste ano?
Começou a subir o consumo das famílias, mas as empresas ainda têm capacidade ociosa para essa demanda. Com o baixo endividamento das empresas, o crédito deverá deslanchar.
A Bolsa no Brasil sobe muito porque há expectativa de que o Lula seja condenado ou os mercados estão positivos?
A Bolsa estava em um nível muito baixo e há um clima positivo, com EUA, Europa e Ásia em crescimento. Não é só especulação, vivemos em um mundo de juros baixos, e o Brasil tem oportunidades.
Por que com inflação tão controlada, o Banco Central não baixa o compulsório?
Os compulsórios são instrumentos de política monetária e o Banco Central vai ajustar.
O presidente Temer vai falar em Davos no mesmo dia do julgamento de Lula. Como o senhor acha que vai ser isso?
Sobre isso, conversamos em Davos.