O pai do estudante Diego Cassas Ribeiro, morto aos 18 anos
com quatro tiros em São Paulo, ainda não consegue entrar no quarto do filho. O
crime aconteceu em 2013, no estacionamento de um restaurante do McDonald’s no
bairro de Pinheiros. A família de Ribeiro compõe a estatística mostrada por uma
pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública feita pelo Datafolha em todo
o País. Um em cada três brasileiros acima de 16 anos tem ao menos um amigo ou parente
que foi vítima de homicídio, o que equivale a cerca de 50 milhões de pessoas
(35%).
O Fórum é uma organização sem fins lucrativos que reúne
acadêmicos e profissionais da área de segurança e tem missão de promover
debates e análises sobre o tema.
O número da amostra é maior entre a população negra (38%) do
que entre os brancos (27%), e entre os mais pobres (36%) do que entre os mais
ricos (32%). Em 12% dos casos, o responsável pela morte foi um policial.
Nas últimas duas décadas, o Brasil somou cerca de 1 milhão
de assassinados. Um dos objetivos da pesquisa era mensurar como a violência
altera a rotina dos “sobreviventes”, pessoas do círculo da vítima que ainda
convive com a insegurança. O levantamento integra uma iniciativa internacional
denominada Instinto de Vida, que cobra a redução dos homicídios em países da
América Latina.
Impacto
“O homicídio é uma realidade que está muito perto de nós e
atinge a todos numa velocidade muita grande. Os números representam uma
tragédia para o País”, disse ao Estado o diretor-presidente do Fórum, Renato
Sérgio de Lima. “Também é triste notar como os crimes impactam o cotidiano dos
que continuaram vivendo.”
Para Marcelo Cassas, irmão do estudante morto há quatro
anos, o principal impacto foi psicológico. “Até hoje, meu pai não consegue
entrar no quarto do meu irmão, nem ver fotos dele. Minha mãe sofreu muito com
depressão e só agora está se livrando dos remédios”, conta. “A dor é para o
resto da vida.”
Condenado pelo homicídio, Caio Rodrigues está foragido e nunca
foi preso. A família da vítima oferece R$ 10 mil por informações que levem à
captura do procurado. “Ele vai ser pego no tempo de Deus”, diz Cassas.
Com 58.467 homicídios registrados em 2015, dado mais
recente, a pesquisa aponta ainda que 71% da população considera esse patamar
“muito alto”. Para 23%, o índice é “alto” e para 4%, “médio”. O Datafolha ouviu
2.065 pessoas acima de 16 anos em 150 cidades, entre 3 e 8 de abril. A margem
de erro é de dois pontos.
“Podemos ser julgados no futuro como monstros morais por
conviver com esse sentimento de indiferença diante de 60 mil homicídios
anuais”, diz Pedro Abramovay, ex-secretário nacional de Justiça e presidente
para a América Latina da Open Society (organização fundada pelo bilionário
George Soros para promover democracia). “Não se indignar é ser cúmplice”, diz,
ao dizer que é preciso “reagir com o cérebro” e estudar os fatores que levam à
violência.
News Paraíba
com IstoÉ