Se o recurso fosse aplicado para a compra de veículos de resgate ou transporte de estudantes, seria possível adquirir 84 mil ambulâncias ou mais de 56 mil ônibus escolares.
Os s mais de R$ 10 bilhões que a Odebrecht usou
para pagar propina a políticos poderia ter sido investido em escolas, postos de
saúde, compras de ambulância e muito mais. O cálculo apresentado pelo Bom
Dia Brasil aponta que, com este valor, daria para construir 5.421
creches para atender mais de 867.360 crianças.
Creche-padrão construída em João Pessoa. Foto: Juliana Santos - Secom-JP |
A conta foi feita pela associação Contas Abertas. Segundo o
secretário-geral da instituição, Gil Castelo Branco, o cálculo se baseia em
valores do Ministério do Planejamento e da Comissão de Orçamento do Congresso.
"É muito dinheiro que poderia estar indo para construir
a infraestrutura do estado e está indo para o bolso de alguns corruptos",
disse.
O total de propina paga pela Odebrecht consta em uma tabela
entregue à Procuradoria Geral da República (PGR) pelo ex-executivo do grupo
Hilberto Mascarenhas, responsável pela Área de Operações Estruturada, conhecida
como o setor de propina da empresa. O setor movimentou US$ 3,3 bilhões, o
equivalente a R$ 10,6 bilhões, de 2006 a 2014.
Em depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato, ele
contou que chegou a alertar o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, para o
volume do dinheiro, que alcançou, tanto em 2012 quanto em 2013, US$ 730 milhões
(R$ 2,2 bilhões, na cotação atual).
No depoimento, o procurador questiona o motivo da queda, no
ano seguinte, para US$ 450 milhões e Hilberto diz que a movimentação trazia
risco de "suicídio" para a empresa.
"Sabe por quê? Porque eu tava de saco cheio
de falar. E aí eu pressionei. Os outros anos eu falava, falava que eu estava
preocupado, estava preocupado, muita gente participando desse assunto nas obras
... Eu fui a Marcelo várias vezes. Marcelo, ó pra isso? Não tem condição. 730
milhões de dólares é mais de bilhão [de reais]. Nenhum mercado tem isso em
disponibilidade de dinheiro por fora e nem tem como você operar isso, rapaz.
Isso aqui é suicídio", disse.
Foto: Google |
"Suicídio financeiro suponho?", emenda o
procurador.
"Suicídio financeiro, suicídio de risco, suicídio de
segurança, suicídio de tudo", completa o ex-executivo. "Eu pedia um
formalismo, entendeu? A questão não era o dinheiro. Era um formalismo. Vamos
tratar esse assunto como um extra, como uma necessidade. Isso não é você ter o
prazer de comprar alguém. Já estava virando o cara ter o prazer de comprar
alguém", narrou.
O setor funcionou até 2015, mesmo após o início da Operação
Lava Jato, por ordem de Marcelo Odebrecht.
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Foto: UOL Educação |
Forma dos pagamentos
Em outro trecho, o responsável pelo departamento de propina
explica que os pagamentos, para brasileiros ou estrangeiros de vários países
onde a Odebrecht tinha obras, era quase todo feito via offshores, empresas que
são criadas em paraísos fiscais apenas pra essas operações financeiras.
Outra parte, menor, era feita em espécie, com a entrega de
pacotes ou malas de dinheiro em locais combinados entre funcionários da empresa
e intermediários dos políticos. Com o crescimento do volume de pagamentos, foi
preciso contratar um funcionário só para administrar os valores.
Hilberto ainda explicou que, por ordem de Marcelo Odebrecht,
as propinas só podiam ser pagas naquelas obras cujos pagamentos já haviam sido
efetuados para a empreiteira.
"Ele [funcionário] tinha um papel determinado por
Marcelo, que não desse andamento a nenhuma solicitação, de nenhuma obra, que
tivesse conta corrente negativa. Acho que o que ele queria era forçar aquela
obra a correr atrás de regularizar a conta corrente", afirmou.
O executivo ainda conta que depois tentou convencer o
presidente do grupo a autorizar repasses de propina antes do pagamento pela
obra, de forma a viabilizá-lo.
"Se você proíbe que ele receba esse
dinheiro, ele não vai receber a fatura, ele vai continuar sempre negativo...
'Não, mas eu quero que ele corra atrás', ele dizia, 'sem precisar dar nada'...
Isso é um sonho na noite de verão né, porque não era assim que funcionava.
Esperamos que no futuro mude, mas as tesourarias dos órgãos não funcionavam
assim... Se não me der o meu, não sai aqui o pagamento", contou.
News Paraíba
com G1