Avaliação foi protocolada sob sigilo, em 1987, no gabinete do então ministro do Exército
Documento sigiloso produzido pelo Exército na década de 1980 mostra que
oficiais superiores do hoje presidenciável Jair Bolsonaro (PSC) o avaliaram
como dono de uma “excessiva ambição em realizar-se financeira e
economicamente”.
A avaliação foi protocolada sob sigilo, em 1987, no gabinete do então
ministro do Exército, Leonidas Pires Gonçalves, durante um processo a que
Bolsonaro foi submetido no Conselho de Justificação (espécie de inquérito).
Conforme a Folha divulgou nesta segunda-feira (15), no processo Bolsonaro
reconheceu ato de indisciplina e deslealdade por ter divulgado um texto, sem
autorização de seus superiores, com pedido de aumento salarial. Ele foi
condenado pelos três coronéis que compunham o conselho mas, após um recurso,
conseguiu a absolvição no STM (Superior Tribunal Militar).
Segundo a “ficha de informações” produzida em 1983 pela Diretoria de
Cadastro e Avaliação do ministério, Bolsonaro, na época tenente com 28 anos de
idade, “deu mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento de
‘garimpo de ouro’. “Necessita ser colocado em funções que exijam esforço e
dedicação, a fim de reorientar sua carreira. Deu demonstrações de excessiva
ambição em realizar-se financeira e economicamente”.
Em interrogatório a que foi submetido no conselho, Bolsonaro reconheceu ter
feito garimpo “na cidade de Saúde, próximo de Jacobina [BA]”, durante as
férias, na companhia de três tenentes e dois sargentos paraquedistas, dois dos
quais “estavam sob seu comando”. Bolsonaro disse que não teve lucro e
classificou a atividade como “hobby ou higiene mental”.
Ouvido pelo conselho, o superior de Bolsonaro, coronel Carlos Alfredo
Pellegrino, disse que tentou demovê-lo da ideia do garimpo, mas conheceu “pela
primeira vez sua grande aspiração em poder desfrutar das comodidades que uma
fortuna pudesse proporcionar”.
Ao regressar, Bolsonaro procurou o oficial. Por um lado ele se “retratou”,
mas por outro teria “confirmado sua ambição de buscar por outros meios a
oportunidade de realizar sua aspiração de ser um homem rico”.
Em sua decisão final, o Conselho de Justificação concordou com a avaliação
da ficha de informações. “A imaturidade é de um profissional que deveria estar
dedicado ao seu aprimoramento militar, através do adestramento, leitura e
estudos, e não aventurar-se em conseguir riquezas.”
Segundo o coronel Pellegrino, Bolsonaro “tinha permanentemente a intenção de
liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do
tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica,
racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos”.
Outro lado
Em entrevista por telefone, Bolsonaro disse: “Vá catar coquinho, Folha de
S.Paulo. Vocês estão recebendo de quem para fazer matéria? Vocês estão
recebendo de quem para me perseguir?”.
Prosseguiu: “Publica essa porra de novo agora sem falar comigo. Eu só falo
com vocês gravando”, disse o parlamentar. “Continue escrevendo essas porcarias
aí na Folha.”
News Paraíba
com Folha de São Paulo