Estilista franco-tunisiano marcou anos 80 com criações sedutoras
O estilista franco-tunisiano Azzedine Alaïa morreu neste sábado, aos 77 anos. Conhecido por suas criações que valorizavam a sensualidade feminina, o designer marcou os anos 80 e vestiu mulheres como Michelle Obama, Lady Gaga e Naomi Campbell (esta a última, uma de suas maiores amigas). De acordo com O Globo, Alaïa foi vítima de uma queda em casa há dez dias. Desde então, ele estava em coma no Hospital Lariboisière, em Paris.
Filho de fazendeiros e nascido na Tunísia, Alaïa estudou Belas-Artes em Tunís. O estilista chegou a Paris com o fim da Guerra da Argélia e chegou a trabalhar como babá para se manter na capital francesa. Logo após a morte de Christian Dior, o estilista foi contratado pela maison homônima, então comandada por Yves Saint Laurent. No entanto, ele ficou apenas dias na grife, pois, como imigrante, não tinha a documentação necessária para manter-se no emprego.
Superada essa primeira adversidade, Alaïa passou pelas grifes Guy Laroche e Thierry Mugler, antes de conquistar clientela própria e abrir um pequeno atelier.
Nos anos 80, a maison de Azzedine Alaïa conquistou fama mundial, com suas criações fetichistas que tratavam o corpo feminino de forma escultural. As peças conquistaram as supermodelos da época, como Grace Jones, Stephanie Seymour e Linda Evangelista, além da cantora Tina Turner.
Mas de todas as suas musas, nenhuma teve uma relação tão estreita com o estilista como a modelo britânica Naomi Campbell, que ele conheceu ainda adolescente, quando ela era recém-chegada a Paris. Em entrevista ao jornalista do ELA Gilberto Júnior, Naomi falou sobre a amizade entre os dois, que surgiu quando ela teve a bolsa roubada a caminho de seu primeiro encontro com ele:
— Alaïa falou com a minha mãe por telefone e a fez saber que se importava comigo e que me protegeria. Ele me chama de filha desde os 16 anos, e eu o chamo de “papa Alaïa”. Nossa amizade nunca muda. Ele tem tanta força. É uma relação de amor incondicional.
Conhecido por seu estilo discreto e reservado, Alaïa preferia desfiles intimistas a grandes espetáculos. Da mesma forma, o estilista, também famoso por seu perfeccionismo, recusava-se a apresentar coleções até que considerasse que as roupas estivessem completamente finalizadas, característica que fazia com que ele relutasse a se encaixar no calendário das semanas de moda. Em 2011, após o escândalo que tirou John Galliano da Dior, ele foi convidado a assumir as rédeas da maison, mas preferiu não aceitar a proposta.
Nas redes, a morte de Alaïa foi lamentada por referências da indústria da moda como a modelo francesa Inès de la Fressange, a modelo italiana Mariacarla Boscono e o fotógrafo turco Mert Alas. Modelo nos anos 80, a brasileira Luiza Brunet chegou a participar de um desfile de Alaïa.
— Conheci ele quando fui passar uma temporada em Paris. Fui designada para um casting no atelier dele e ele foi super gentil. Depois disso, quando ia a Paris passava na casa dele para dar um beijo. O Azzedine sempre foi um cara extremamente cordial e generoso. Ele fez parte de uma safra de criadores que fez diferença na moda. Era uma moda extremamente feminina, que deixava a mulher sempre bonita, sexy e elegante — contou Luiza.
Entre seus colegas, Alaïa contava como admiradores Nicolas Ghesquière, atual estilista da Louis Vuitton, e Alber Elbaz, ex-diretor-criativo da Lanvin. Em 2000, quando comandava a Louis Vuitton, Marc Jacobs fez um desfile em homenagem ao mestre. No mesmo ano, a obra de Alaïa foi tema de uma exposição no Guggenheim, em Nova York.
Após uma ausência de seis anos, Azzedine Alaïa tinha feito o seu retorno à semana de alta-costura parisiense em julho passado, para apresentar o seu outono-inverno 2018. Elogiado pela crítica, o desfile foi aberto, naturalmente, por Naomi Campbell.