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Para especialistas, Bolsonaro terá dificuldades para 'explicar' aliança com PR de Valdemar

terça-feira, 26 de junho de 2018

/ por News Paraíba

Avaliação, porém, é que tempo de TV e vice evangélico podem compensar desgaste
A aliança encaminhada com o PR de Valdemar Costa Neto dará ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) tempo de televisão, estrutura nos estados e um vice com forte presença no meio evangélico, mas obrigará o candidato a repetir que a coligação não significa um recuo no seu discurso de combate à corrupção. Cientistas políticos ouvidos pelo Globo destacam que o pré-candidato do PSL só receberá os benefícios esperados se conseguir explicar ao eleitor seu movimento.

— Bolsonaro era um dos poucos que estava zero quilômetro nesse debate sobre corrupção, ao fazer aliança com uma pessoa condenada vai se expor e vai ter que explicar muito. Por mais que diga que busca a governabilidade, mais espaço para divulgar seus programas na TV e tudo o mais, vai gastar metade do tempo, pelo menos, explicando a aliança — diz Ricardo Caldas, professor de Teoria da Corrupção na Universidade de Brasília.

— Se a estratégia eleitoral do Bolsonaro é muito ligada ao combate à corrupção, ele devia dar o exemplo, ele teria que mostrar que em suas alianças não está ninguém que esteja envolvido em acusações graves — afirma Ricardo Ismael, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Para o professor Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), a aliança mostra os laços que unem o presidenciável à chamada política tradicional e observa ainda o fato de em 2002 o mesmo Valdemar esteve por trás da aliança que ajudou o petista Luiz Inácio Lula da Silva a chegar ao Planalto.

— Não é lá uma aliança muito coerente. Bolsonaro tenta se vender como um político diferente dos tradicionais. E nada é mais tradicional que a figura do Valdemar, a de um cacique. É o contrário do que se imaginaria como algo novo, avesso à corrupção, até porque Valdemar foi até preso por corrupção. Se o discurso anticorrupção é um dos principais argumentos dele, soa esquisito. Além disso, foi por meio de Valdemar que Lula conseguiu um vice em 2002 e agora Bolsonaro, que é antipetista, recorre ao mesmo expediente — afirma

Para justificar a coligação, Bolsonaro tem insistido que seu objetivo é ter o senador Magno Malta (ES) como vice. O parlamentar tem forte influência no meio evangélico e poderia ampliar o potencial do presidenciável nesse segmento. Ainda há o fato de que com o PR Bolsonaro deixará de ser um "nanico" na TV e terá também mais estrutura em suas campanhas nos estados. Mesmo com o desgaste que a associação a Valdemar e outras figuras do partido envolvidas em suspeitas de corrupção pode trazer, a avaliação é de que a coligação pode compensar.

— Esse tipo de aliança, do ponto de vista de tempo de TV, é claramente benéfica a ele. Desse ponto de vista é um ganho. E os eleitores do Bolsonaro não vão dar tanta atenção a essa inconsistência, até porque esses eleitores têm dado pouca atenção a outras inconsistências dele — afirma Cláudio Couto.

— Esse namoro dele com o Magno Malta é antigo. Ele pode dentro da estratégia eleitoral abrir diálogo com grupo importante, dos evangélicos, além de ter o tempo de TV. Então tem um cálculo entre ganhos e perdas que ele deve estar fazendo de que isso vá compensar o desgaste que virá — analisa Ricardo Ismael.
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