Segundo O Globo, o Ministério dos Direitos da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos divulgou nesta quinta-feira que, em 2018, houve 1685 denúncias sobre violência contra a propulação LGBTI em todo o Brasil. Diretora de Promoção dos Direitos LGBT do órgão, Marina Reidel, afirmou em entrevista ao Globo que o número provavelmente é menor do que a quantidade de casos que realmente acontecem cotidianamente no país.
Mulher trans, Reidel chegou ao ministério em novembro de 2016, cedida para o governo federal pelo estado do Rio Grande do Sul, onde é servidora concursada. Na conversa com a reportagem, ela afirmou que desenha o projeto de um observatório nacional voltado para a população LGBTI para prestar assistência às vítimas que reportam violência ao Disque 100 . Ela afirma ainda que está organizando um projeto para promover a empregabilidade entre essa população.
Questionada se sofre resistência dentro do governo de Jair Bolsonaro , considerado homofóbico pelo movimento LGBT , Reidel nega. Ela admite que sofreu críticas por integrar a equipe do governo, mas segundo ela, "é preciso estar em todos os espaços".
Os dados do Disque 100 mostram que desde 2015 tem ocorrido uma queda nas denúncias. O que isso significa?
O Disque 100 é apenas um dos canais para trazer esses dados, ele não necessariamente reflete a realidade, porque muitas vezes as pessoas não denunciam. O decréscimo pode ser justamente por isso, porque as pessoas não denunciam por pensar que não serão respeitadas. Mas essas informações vão nos ajudar a pensar uma política pública. Queremos criar um observatório nacional para fazer um atendimento mais específico dos casos do Disque 100. Vemos que a violência contra os LGBT é reflexo de uma sociedade como a nossa. Toda e qualquer violência ocorre justamente por todos os preconceitos que vemos no dia a dia.
Como funcionaria esse observatório? Pretendem criar centros de atendimento à população LGBT vítima de violência?
Atualmente, a denúncia vem para o nosso canal e a gente devolve para as autoridades responsáveis no estado de origem para que o município faça encaminhamentos, mas, muitas vezes, a denúncia se perde e o órgão que a recebe na ponta não dá continuidade. Pensamos em ter um espaço dentro dentro do governo federal para fazer uma apuração melhor dos dados, ligar para para a delegacia local, tentar acolher a vítima, fazer um trabalho mais humanizado. Atualmente, não conseguimos atender a vítima no interior do país. O projeto vem sendo desenhado desde o mês passado, talvez façamos convênios com alguma instituição local. A ideia é ter um profissional que possa fazer uma visita in loco. O projeto está aguardando o aval do secretário de Proteção Global (Sérgio Queiroz). O ministério está preocupado com a pauta e com que as pessoas acreditem mais no serviço. O Disque 100 foi criado para gerar dados para pensar política pública, mas hoje vemos que além dos dados precisamos ter um olhar para as vítimas.
Em entrevista ao GLOBO, em janeiro, o secretário de Proteção Global, Sérgio Queiroz, questionou os dados existentes sobre violência contra LGBTs e afirmou que era preciso ter mais dados sobre o tema. O governo tem projetos para promover algum tipo de coleta de informações nesse sentido?
A gente reconhece que o Disque 100 é um dos canais, assim como temos o Data Sus. Temos lutado desde ano passado para discutir a questão com o IBGE, porque seria a fonte mais adequada para trazer mais dados sobre a população LGBT , mas há uma dificuldade de dialogar com o IBGE nesse sentido. Não estamos tendo um resultado efetivo, um diálogo.
Há resistência do IBGE em tratar do tema?
Não sei se posso dizerque é uma resistência, mas há temáticas que são tensas em qualquer lugar, a nossa é uma delas. Precisamos avaliar onde é o problema, se é financeiro ou de ordem política.
Qual sua opinião sobre a criminalização da homofobia pelo STF?
Toda iniciativa que tente minimizar casos de violência e que comprometam os direitos humanos dessas populações são bem vindas. Sabemos que o ideal não seria o STF fazer isso e sim o legistativo, mas diante da inoperância deste último temos direcionado nossas pautas para o Supremo e tem tido efeito. Tivemos o avanço do casamento gay, do registro do nome social, coisas que temos que agradecer e aplaudir. A violência é uma cultura que ainda vai demorar muito tempo para resolvermos, porque a sociedade ainda é preconceituosa. Vamos viver por muito tempo em uma cultura de violência.
O presidente Jair Bolsonaro se posicionou contra a criminalização da homofobia. Segundo ele, a decisão do STF pode afetar empregos de homossexuais. Qual sua opinião?
Confesso que não vi essa afirmação. Prefiro não entrar nessa seara de opiniões pessoais do presidente e de ministros. Eu não li o que ele falou. Acho que talvez no ponto de vista do empresário ou em alguns espaços onde a cultura homofóbica ainda esteja presente talvez possa haver esse olhar. Talvez haja pessoas que tenham essa compreensão.
Você sofre algum tipo de resistência dentro do governo para traçar políticas para a área?
Desde o momento que permaneci nesse espaço, fui muito respeitada enquanto mulher trans e gestora. Todas as propostas que temos levantado, inclusive esse projeto, recebemos o questionamento se é importante, quando dizemos que sim, recebemos o consentimento para fazer. Não há resistência aos nossos projetos. Em nenhum momento eles foram cortados do nosso plano estratégico.
Como você foi recebida pela comunidade LGBT após aceitar um cargo em um governo que é considerado homofóbico? Por que decidiu fazer parte do governo?
Eu sou funcionária pública, eu tenho que trabalhar. Temos que estar em vários espaços, esse é um espaço que decidi ficar, porque se eu não estiver aqui tentando a manutenção da pauta, apoiando as ações, quem estará? É claro que sempre vamos ouvir críticas. Pessoas vão questionar "se o governo é assim, por que voce está lá?" Outras questionariam se eu também não estivesse. Isso é uma característica da sociedade e respeitamos as opiniões. Nesse momento estamos aqui, até quando não sabemos, porque tudo é muito instável. Estou aqui tentando fazer pautas para nossa população serem prioritárias.
Além do observatório que outros projetos pretende implementar?
Queremos tratar sobre a questão da empregabilidade dessa população, sobre a questão da violência .
Mulher trans, Reidel chegou ao ministério em novembro de 2016, cedida para o governo federal pelo estado do Rio Grande do Sul, onde é servidora concursada. Na conversa com a reportagem, ela afirmou que desenha o projeto de um observatório nacional voltado para a população LGBTI para prestar assistência às vítimas que reportam violência ao Disque 100 . Ela afirma ainda que está organizando um projeto para promover a empregabilidade entre essa população.
Questionada se sofre resistência dentro do governo de Jair Bolsonaro , considerado homofóbico pelo movimento LGBT , Reidel nega. Ela admite que sofreu críticas por integrar a equipe do governo, mas segundo ela, "é preciso estar em todos os espaços".
Os dados do Disque 100 mostram que desde 2015 tem ocorrido uma queda nas denúncias. O que isso significa?
O Disque 100 é apenas um dos canais para trazer esses dados, ele não necessariamente reflete a realidade, porque muitas vezes as pessoas não denunciam. O decréscimo pode ser justamente por isso, porque as pessoas não denunciam por pensar que não serão respeitadas. Mas essas informações vão nos ajudar a pensar uma política pública. Queremos criar um observatório nacional para fazer um atendimento mais específico dos casos do Disque 100. Vemos que a violência contra os LGBT é reflexo de uma sociedade como a nossa. Toda e qualquer violência ocorre justamente por todos os preconceitos que vemos no dia a dia.
Como funcionaria esse observatório? Pretendem criar centros de atendimento à população LGBT vítima de violência?
Atualmente, a denúncia vem para o nosso canal e a gente devolve para as autoridades responsáveis no estado de origem para que o município faça encaminhamentos, mas, muitas vezes, a denúncia se perde e o órgão que a recebe na ponta não dá continuidade. Pensamos em ter um espaço dentro dentro do governo federal para fazer uma apuração melhor dos dados, ligar para para a delegacia local, tentar acolher a vítima, fazer um trabalho mais humanizado. Atualmente, não conseguimos atender a vítima no interior do país. O projeto vem sendo desenhado desde o mês passado, talvez façamos convênios com alguma instituição local. A ideia é ter um profissional que possa fazer uma visita in loco. O projeto está aguardando o aval do secretário de Proteção Global (Sérgio Queiroz). O ministério está preocupado com a pauta e com que as pessoas acreditem mais no serviço. O Disque 100 foi criado para gerar dados para pensar política pública, mas hoje vemos que além dos dados precisamos ter um olhar para as vítimas.
Em entrevista ao GLOBO, em janeiro, o secretário de Proteção Global, Sérgio Queiroz, questionou os dados existentes sobre violência contra LGBTs e afirmou que era preciso ter mais dados sobre o tema. O governo tem projetos para promover algum tipo de coleta de informações nesse sentido?
A gente reconhece que o Disque 100 é um dos canais, assim como temos o Data Sus. Temos lutado desde ano passado para discutir a questão com o IBGE, porque seria a fonte mais adequada para trazer mais dados sobre a população LGBT , mas há uma dificuldade de dialogar com o IBGE nesse sentido. Não estamos tendo um resultado efetivo, um diálogo.
Há resistência do IBGE em tratar do tema?
Não sei se posso dizerque é uma resistência, mas há temáticas que são tensas em qualquer lugar, a nossa é uma delas. Precisamos avaliar onde é o problema, se é financeiro ou de ordem política.
Qual sua opinião sobre a criminalização da homofobia pelo STF?
Toda iniciativa que tente minimizar casos de violência e que comprometam os direitos humanos dessas populações são bem vindas. Sabemos que o ideal não seria o STF fazer isso e sim o legistativo, mas diante da inoperância deste último temos direcionado nossas pautas para o Supremo e tem tido efeito. Tivemos o avanço do casamento gay, do registro do nome social, coisas que temos que agradecer e aplaudir. A violência é uma cultura que ainda vai demorar muito tempo para resolvermos, porque a sociedade ainda é preconceituosa. Vamos viver por muito tempo em uma cultura de violência.
O presidente Jair Bolsonaro se posicionou contra a criminalização da homofobia. Segundo ele, a decisão do STF pode afetar empregos de homossexuais. Qual sua opinião?
Confesso que não vi essa afirmação. Prefiro não entrar nessa seara de opiniões pessoais do presidente e de ministros. Eu não li o que ele falou. Acho que talvez no ponto de vista do empresário ou em alguns espaços onde a cultura homofóbica ainda esteja presente talvez possa haver esse olhar. Talvez haja pessoas que tenham essa compreensão.
Você sofre algum tipo de resistência dentro do governo para traçar políticas para a área?
Desde o momento que permaneci nesse espaço, fui muito respeitada enquanto mulher trans e gestora. Todas as propostas que temos levantado, inclusive esse projeto, recebemos o questionamento se é importante, quando dizemos que sim, recebemos o consentimento para fazer. Não há resistência aos nossos projetos. Em nenhum momento eles foram cortados do nosso plano estratégico.
Como você foi recebida pela comunidade LGBT após aceitar um cargo em um governo que é considerado homofóbico? Por que decidiu fazer parte do governo?
Eu sou funcionária pública, eu tenho que trabalhar. Temos que estar em vários espaços, esse é um espaço que decidi ficar, porque se eu não estiver aqui tentando a manutenção da pauta, apoiando as ações, quem estará? É claro que sempre vamos ouvir críticas. Pessoas vão questionar "se o governo é assim, por que voce está lá?" Outras questionariam se eu também não estivesse. Isso é uma característica da sociedade e respeitamos as opiniões. Nesse momento estamos aqui, até quando não sabemos, porque tudo é muito instável. Estou aqui tentando fazer pautas para nossa população serem prioritárias.
Além do observatório que outros projetos pretende implementar?
Queremos tratar sobre a questão da empregabilidade dessa população, sobre a questão da violência .
Quem quiser vir dialogar as portas estão abertas. Estamos criando um GT que vai ser publicado via portaria com alguns representantes de espaço importantes da sociedade civil para criar um projeto modelo de empregabilidade, já temos apoio de grandes empresas que querem ser parceiras. Fiz uma reunião na Uber e também temos um diálogo com a Avon. Falei também com a Embaixada dos Estados Unidos. É importante dizer que não queremos a higienização das ruas. Não queremos tirar travestis do seu lugar de profissionais do sexo para ir para uma empresa trabalhar se elas quiserem permanecer lá. Queremos oportunizar espaços onde a pessoa possa escolher seus trabalhos. É diferente de higienizar as ruas e dizer que agora não pode mais ser profissional do sexo. Um ponto que identificamos é que para conseguir impulsionar a empregabilidade, precisamos profissionalizar essas pessoas.
Há algum projeto junto ao Ministério da Educação (MEC) para fazer essa qualificação?
Pela urgência do projeto acho que o MEC pode vir como um diálogo posterior. O que temos feito é um diálogo com as empresas e elas oferecerem dentro dos seus espaços (formação) para as necessidades que eles têm. O transcidadania em São Paulo é um exemplo desse processo, porque deu formação para as pessoas e a segunda etapa deveria ser o diálogo com as empresas. Eu acredito que as empresas demandam o tipo de formação e o curso acontece, isso é uma outra maneira de captar profissionais que possam atender às demandas do mercado de trabalho.
Há algum projeto junto ao Ministério da Educação (MEC) para fazer essa qualificação?
Pela urgência do projeto acho que o MEC pode vir como um diálogo posterior. O que temos feito é um diálogo com as empresas e elas oferecerem dentro dos seus espaços (formação) para as necessidades que eles têm. O transcidadania em São Paulo é um exemplo desse processo, porque deu formação para as pessoas e a segunda etapa deveria ser o diálogo com as empresas. Eu acredito que as empresas demandam o tipo de formação e o curso acontece, isso é uma outra maneira de captar profissionais que possam atender às demandas do mercado de trabalho.